
Mulheres no xadrez: conquistas e desafios
Hoje, dia 08 de março, é conhecido como o dia internacional da mulher. Trata-se de uma data que nos convida a olhar e a refletir sobre as agências femininas ao longo do tempo, suas lutas pela conquista de direitos e pela igualdade entre homens e mulheres. É também uma data que nos faz lembrar o quanto ainda é preciso ser trilhado para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, na qual todos, independente de qualquer distinção, estejam em pé de igualdade.
Aproveitando o ensejo dessa data comemorativa, gostaria de convidar a todos para refletir a respeito da participação das mulheres no xadrez e sobre o quanto ainda é preciso fazer para que esse esporte seja mais receptivo e acolhedor ao público feminino.
É fato que o xadrez, nas últimas décadas, tenha se popularizado bastante entre o público feminino, gerando um engajamento nunca antes visto. No Brasil, por exemplo, cada vez mais aparecem jovens mulheres talentosas, como a MF Júlia Alboredo e a também MF Juliana Terao, as quais não apenas vêm se destacando no cenário nacional, mas também internacional. No entanto, o cenário do xadrez feminino, especialmente no Brasil, ainda está longe do ideal.
Geralmente, quando vamos a torneios, principalmente aqueles de nível amador ou semiprofissional, a disparidade entre a relação de jogadores homens e mulheres é gigantesca, em alguns casos, chega a ser irrisório a relação entre competidores homens e mulheres - em alguns casos, sequer há mulheres participando. Essa pouca participação do público feminino em torneios pode ser explicada, em grande parte, por uma cultura enxadrística, de longa bagagem histórica, ainda bastante permeada por mitos e preconceitos acerca das mulheres no xadrez.
Até pouco tempo atrás - pelo menos até meados da década de 1990 - as mulheres eram vistas, não por todos, embora a maioria pensasse assim, com certa ridicularidade no xadrez, consideradas oponentes fracos, não sendo preciso muito esforço para derrotá-las. Isso mudou rapidamente com o aparecimento da jovem e intrépida enxadrista Judit Pólgar, de origem húngara. Pólgar, com seu estilo bastante agressivo e dinâmico, foi capaz de jogar de igual para igual e mesmo de derrotar os melhores jogadores de sua época, incluindo, entre eles, Garry Kasparov, considerado por muitos o melhor jogador de todos os tempos.
Por suas partidas magistrais, com lances brilhantes e fantásticos, e por seu talento inestimável, Pólgar foi capaz de, em um ambiente pouco acolhedor às mulheres, dar visibilidade ao xadrez feminino, incentivando, com seu exemplo, muitas outras garotas a iniciar no xadrez. Dos meados dos anos 1990 até hoje, o número de jogadoras vem crescendo bastante, com muitas mulheres alcançando o titulo de maior grau no xadrez, o de Grande Mestre (GM).
Todavia, o número de jogadoras ainda é baixo em comparação ao de jogadores. Mais abismal ainda é a diferença de força entre homens e mulheres. Mesmo jogadoras como a chinesa Hou Hyfan, atual número 1 no ranking feminino, estão muito atrás dos jogadores de elite. Hou atualmente possui 2628 pontos de rating, ocupando somente a posição de número 127 no ranking da FIDE, considerando os jogadores que continuam em atividade.
Para explicar essa diferença colossal, muitos tendem a dizer que o homem tem mais pré-disposição a dominar o xadrez devido a uma suposta maior capacidade em empregar o raciocínio lógico e matemático. Acontece que esse argumento é bastante raso e simplista, partindo não de pesquisas seriamente desenvolvidas, mas de opiniões baseadas no senso comum e que são permeadas de preconceitos e mitos.
Ao buscar explicar a tamanha diferença entre o desempenho de homens e mulheres no xadrez, temos que ter em conta que só muito recentemente - cerca de 30 anos, até menos - o xadrez passou a se tornar popular entre o público feminino, principalmente à nível competitivo. Outro fator que também devemos levar em consideração é que, além de o xadrez competitivo entre as mulheres ser recente, o ambiente enxadrístico, embora tenha e venha melhorando muito, permanece bastante hostil ao público feminino.
É muito comum acontecer que a menina tenha acabado de aprender a jogar xadrez e a dar os seus primeiros passos no aprimoramento de seu jogo e se defrontar com crenças limitantes que são difundidas por muitos jogadores e, inclusive, treinadores, segundo as quais as mulheres, por natureza, seriam inferiores aos homens no xadrez. Como um jogador de torneio, embora não seja um profissional, os leitores vão concordar comigo a respeito de o quanto a confiança e a seguridade são importantes para competir em bom nível. Agora imagine uma menina, pouco experiente, se defrontando com uma afirmação dessa. O resultado às vezes pode ser bastante danoso, levando mesmo ao abandono do jogo.
Mas, assim como nem tudo na vida são flores, também nem tudo na vida são espinhos. Claro está que o xadrez feminino carece de mais apoio e incentivo, tanto financeiro como moral. Apesar do caminho longo a ser trilhado, a boa notícia é que os primeiros passos já foram dados, basta agora continuar caminhando e superando os obstáculos existentes e os que estão por vir. O xadrez tem muito a ganhar com a ampliação da participação do público feminino, como Judit Pólgar já demonstrou e como Júlia Alboredo e Juliana Terao, assim como muitas outras, vêm demonstrando.