
Era das Engines: Xadrez Sob Suspeita
Lembro do tempo em que jogar xadrez online era simples: você entrava numa partida, jogava, perdia, ganhava, aprendia… E sentia. Havia uma troca ali.
Um encontro de mentes, mesmo que anônimo, mesmo que num momento breve com aquele adversário.
Dois jogadores, países diferentes, mas desfrutando de um bom xadrez online (utilizando a Engine somente depois, no término da partida, para verem e aprenderem onde que erraram & acertaram).
Hoje, em algumas partidas, eu fico me perguntando: com quem estou jogando, afinal? Será que estou aqui enfrentando mesmo uma pessoa?
Vivemos a Era das Engines. E se por um lado elas revolucionaram o estudo do xadrez, por outro, também o envenenaram.
O que era para ser uma bonita ferramenta, acabou virando uma arma.
A minha última partida (Modalidade: Diário ☀️), fiquei desconfiado de um adversário que já havia me vencido num jogo (confronto de clubes no chess.com), e agora na outra partida (comigo de brancas), onde ele "perdeu o roque" na abertura, mas mesmo assim, realizou mais de 98% de precisão no game. Ofereci empate, e achei mais estranho ainda ele ter aceitado a proposta. [Remorso?] 🤔🤯
O que era para nos ajudar a evoluir [e também nos unir], começou a nos afastar uns dos outros.
Particularmente, [às vezes] me sinto mais confortável jogando contra um desconhecido, do que contra um amigo que conheço pessoalmente. Infelizmente.
🚫 Banimentos, Medo e Desconfiança:
Se você joga online com frequência, já passou por isso: um adversário começa a jogar lances perfeitos, frios, sem hesitação. A partida acaba e você não sente raiva, nem orgulho. Sente apenas uma leve dúvida:
“Será que era Engine?”
Esse pensamento destrói a magia do jogo. E não é só com jogadores de alto nível. Todo mundo está sob suspeita. Gente de 800 de rating sendo banida. Gente de 2100 sendo acusada. Comunidades virando tribunais. E o prazer de jogar vai sendo substituído pela mais pura paranóia.
Perfis (e ratings) variados de jogadores sendo banidos. 🚫
💣 Xadrez virou um Campo Minado:
Eu confesso: já perdi a vontade de jogar várias vezes. Não pela derrota, mas pela sensação de que o jogo está manchado. Que a beleza do erro humano foi substituída pela rigidez robótica de lances calculados. Que o adversário do outro lado talvez nem estivesse jogando de verdade.
E mesmo assim… Continuo aqui.
Porque ainda amo o xadrez. Amo como ele me faz pensar, sentir, crescer. E porque ainda acredito que há mais gente jogando com o coração do que com engine ligada.
• Botão: Coração [Ativado] — Engine [Desativado].
🎮 É possível salvar o jogo?
Não sei.
Mas, o que eu sei, é que o primeiro passo é a gente falar sobre isso.
Não como acusadores, mas como jogadores que sentem falta de algo que está se perdendo.
Se quisermos manter o xadrez vivo, precisamos protegê-lo. Não apenas das engines — mas da indiferença, da desconfiança e da frieza que elas trouxeram.
Talvez ainda exista um xadrez onde errar seja bonito, onde perder ensine mais do que vencer, e onde, acima de tudo, o adversário seja alguém — humano como a gente.
Se você sentiu isso também, esse texto é seu.
E se quiser falar comigo, estarei no próximo lance.
Muito obrigado por mais uma leitura! 🫂
Neto_Velazquez