Meu melhor jogo no Chesscom (por enquanto...)

Ahoy!

Hoje vou falar um pouco de partidas que me senti especialmente bem jogando. Recentemente, completaram-se seis meses da minha volta aos tabuleiros virtuais - sempre deslizando entre 1000 e 1100 de rating -, e queria encontrar uma partida que realmente me desse orgulho de ter jogado. E achei essa, após procurar bastaaaante. O mais bacana nela foi que a partida foi decidida por um erro, e após ter mordido a vantagem, não larguei mais. 

Começo dizendo que a partida é horrível. Meu oponente jogou a contestável "small center defense", um treco que parece aquela série do Rafael Leite de mover os peões apenas uma casa. Ela foi jogada dia 29/08, quando este capivara que vos escreve estava animado com a abertura do bispo ensinada pelo GM Krikor no YouTube há alguns anos. Como o excelente aluno que sou, esqueci completamente da ordem de lances, e fechei os olhos para as bobeiras que meu oponente (não) estava desenvolvendo; o resultado foi uma mistura de abertura do bispo com gambito elefante sem dente. De qualquer modo, após o lance 6, tínhamos essa gosma de lambreta aí no tabuleiro: 

Eu juro que me senti um super GM jogando isso aí.

Parti para as ideias típicas, que, no meu elo, são "mexer qualquer coisa espero não pendurar nenhuma peça espero que dê certo meu pai amado". Perdi toda a vantagem já na primeira decisão: exd5?!. 

O jogo prosseguiu sem grandes emoções, empatado (como sempre está até o xeque-mate, e não aceito que me digam o contrário! Ha-ha, na sua cara, barrilda!) até o lance 13, onde minha vontade capivarística falou mais alto e, por qualquer motivo, achei que não ganhar um peão de graça seria uma boa ideia:

Tal como Albert Einstein, evidentemente esse Stockfish cansado não viu a genialidade por trás de ... não. Só perdi toda a vantagem, mesmo...

O desespero por não ver a cravada no peão de E tomou conta da minha pessoa, e segui deslizando. Tirar a Dama de f3 pareceu importante, e, como todo capivara de respeito, parti para os planos óbvios de mate. O jogo seguiu ...Nf6, Qg3?! e 0-0, e mais uma funesta imprecisão acabou com meus planos de estar melhor (nessa posição, até eu percebi que tava difícil a situação). Ouso dizer, contudo, que não era um lance tão óbvio de ser achado, pelo menos nessa gama de Elo:

Como diria o Grande Mestre Rafael Leitão, o que você jogaria de pretas na posição do diagrama? Se você viu Qa5, parabéns! Meu oponente jogou h6. Ufa!

A minha vontade de entregar esse pônei desgraçado era muito forte. Segui com Nc7?, prontamente respondido com Rc8, troquei o finado pocotó por um peão (Nxe6, que era o melhor lance na posição lamentável em que me encontrava), e transformei minha Torre "no meio campo, o lugar dos craques, que vão levando o time todo pro ataque": Rxe6?! seguiu na partida. Agora a posição ainda era decisivamente melhor para meu oponente, mas era perigosa. 

Ele cometeu dois erros seguidos: ...Ne4? e após Qxg6, ...Rc7?, e agora a vantagem dele se tornou meramente stockfishística. Dessa vez, aproveitei a cravada do bispo em g7 e fiz o suculento Bxh6!, e embora a chatíssima barrilda ainda dê vantagem estratégica para meu oponente, é complicado achar o lance agora. Milharal devidamente invadido. 

Meu oponente respondeu essa parada com algo que até parecia funcionar: Rf6??. Você consegue achar o lance da engine para as negras nessa posição? (Qh4!)

O mais surpreendente é que eu encontrei a desgraça da continuação que me traria a partida. A partir desse momento, invoquei com sucesso os espíritos, a transfusão espiritual deu certo, e depois de Rf6?? segui com o vencedor Re8+. Esse lance leva uma daminha pra casa! (Tente na balada quando estiver dando tudo errado: chegue na gata e fale "torre e oito xeque, vamo?").

Meu oponente perdeu totalmente o controle da partida, e com uma incrível sucessão de melhores lances - auxiliado por um blunder de torre que ele cometeu no final - consegui reverter uma desvantagem de 5 pontos táticos e estratégicos. É tão raro conseguir encontrar uma brecha, e dominar uma posição fazendo lances corretos na ordem vencedora, que decidi postar essa birosca aqui (: 

Tá, o cidadão me ajudou. Em que mundo ele achou que enfiar única peça que lhe restava num cantinho do castigo seria uma boa jogada? Mate em 9 aqui. E a prova definitiva que não precisa mexer peão, esse papo aí é só para vender livro.

Não, eu não vi o mate em nove. Joguei qualquer coisa. A famosa posição que qualquer coisa ganha. Mas PROMETO para vocês que dei o mate da maneira mais cruel e desumana possível, naturalmente - vejam o diagrama abaixo.

Obrigado pela leitura! A intenção desse post é, claro, meramente humorística e para mostrar que até os capivaras mais afundados fazem partidas bacanas, mesmo em situações perdidas - ainda que de vez em nunca!

Tá ok até.

Para ver a partida completa, observar meus desvios de mate no corredor, ver como puni esse lance descabido de torre, e o mate bonitinho que dei, navegue no diagrama:

Até a próxima!