
Xadrez influencia QI? QI influencia Xadrez? (Ou: O que xadrez tem a ver com basquete)
As respostas para as perguntas do título são “Sim” e “Sim, mas nem tanto”. Veja neste artigo o porquê.
Porque a prática do xadrez influencia (positivamente) o QI.
De acordo com Introduction to Psychology, de Arno Witting, a primeira medida padronizada de inteligência foi desenvolvida por volta de 1900, pelo psicólogo francês Alfred Binet, cujo objetivo era predizer o desempenho acadêmico de crianças na escola. O trabalho de Binet foi revisado em um artigo de 1916 do pesquisador Lewis Terman, da Universidade de Stanford, dando origem ao teste de Stanford-Binet.
Esse teste divide a inteligência em fatores (Raciocínio Fluido, Conhecimento, Raciocínio Quantitativo, Processamento Visuo-Espacial, Memória de Trabalho), e cada fator é avaliado por subtestes, tanto verbais como não verbais.
O resultado nos subtestes é utilizado para determinar a Idade Mental (IM) do sujeito. O Quociente de Inteligência de razão (QI de razão) é calculado dividindo IM pela Idade Cronológica (IC) e multiplicando por 100, ou seja, QI = (IM/IC) x 100.
No entanto, o fato de a idade cronológica aumentar constantemente diminui a confiança no QI de razão. Por esse motivo, o romeno-americano David Wechsler propôs o QI de desvio, que usa Estatística para calcular o resultado. Sobre o QI de desvio, Witting escreve: “Depois que o sujeito completou o teste, quem o ministrou determina o QI obtido comparando o desempenho do sujeito com o de outros da mesma idade” (p. 225). Desse modo, o valor obtido torna-se menos sujeito a flutuações com o passar do tempo e mais confiável como medida “a longo prazo”.
De qualquer maneira, mudanças significativas no QI ainda podem acontecer. Segundo Witting, pesquisas “levaram à conclusão geral de que a estabilidade do QI dependerá da experiência de vida do indivíduo que está sendo testado. Para um adulto, o QI pode elevar-se, permanecer o mesmo, mostrar um acréscimo ou decréscimo generalizados, ou [...] em áreas específicas somente. As mudanças em QI parecem ser influenciadas pela familiaridade continuada da pessoa com as situações de teste, tipo de emprego, estilo de vida e outras experiências” (p. 227).
Portanto, a prática do xadrez pode contribuir para manter ou aumentar o QI nas áreas específicas da inteligência utilizadas pelo jogo.
Porque o QI influencia o xadrez (mas nem tanto).
Malcolm Gladwell, em seu livro Fora de série, fala sobre a relação entre QI e sucesso individual.
O QI médio é 100; Gladwell escreve: “Em geral, quanto maior a pontuação alcançada, mais tempo a pessoa estudará, mas dinheiro tenderá a ganhar e — acredite se quiser — mas tempo viverá” (p. 76). Podemos considerar que o mesmo se aplica a jogadores de xadrez.
Porém, curiosamente, QI e sucesso se relacionam até certo ponto somente. “Depois que alguém alcança um QI em torno de 120, quaisquer pontos adicionais não parecem se converter em vantagem mensurável no mundo real” (p. 76).
Para entendermos isso melhor, Gladwell propõe uma comparação com a altura no basquete. “Alguém com 1,70 m tem chances reais de virar jogador de basquete profissional nos Estados Unidos? Não. É necessário medir pelo menos 1,82 m ou 1,85 m para chegar a pensar nisso e, em condições normais, é provavelmente melhor ter 1,88 m do que 1,85 m e melhor medir 1,92 m do que 1,88 m. Mas, a partir de certo ponto, a altura já não importa tanto. Um jogador de 2,03 m não é automaticamente mais eficiente do que outro 5 cm mais baixo (Michael Jordan, o maior jogador de todos os tempos mede 1,98 m)” (p. 77).
Ou seja, assim como, no basquete, os jogadores precisam ser altos o suficiente, para poder se destacar em qualquer área é necessário ter uma inteligência suficiente. Eventuais pontos a mais no QI não se traduzem tanto em maiores realizações na vida.
Além disso, o QI está longe de ser tudo; oportunidades e dedicação são essenciais. Leia meu outro artigo sobre o livro de Gladwell para saber mais.
Em breve mais posts sobre o assunto. Siga-me ou mande solicitação de amizade (aceito todas em no máximo alguns dias).