Pizarnik

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Amálgama
pecíolo
diáfanas

1
Saltei de mim para a aurora.
Deixei meu corpo junto à luz
e cantei a tristeza do que nasce.

3
só a sede
o silêncio
nenhum encontro
cuida de mim amor meu
cuida da silenciosa no deserto
da viajante com o copo vazio
e da sombra de sua sombra 

4
AGORA BEM:
Quem deixará de afundar sua mão em busca do
tributo para a pequena esquecida. O frio pagará.
Pagará o vento. A chuva pagará. Pagará o trovão. 

6
ela se desnuda no paraíso
da sua memória
ela desconhece o feroz destino
das suas visões
ela tem medo de não saber nomear
o que não existe 

12
não mais as doces metamorfoses de uma menina de seda
sonâmbula agora na cornija de névoa
seu despertar de mão respirando
de flor que se abre ao vento 

13
explicar com palavras deste mundo
que partiu de mim um barco me levando 

16
construiu sua casa
emplumou seus pássaros
golpeou o vento
com seus próprios ossos
terminou sozinha
o que ninguém começou 

18
como um poema consciente
do silêncio das coisas
fala para não me ver 

22
na noite
um espelho para a pequena morta
um espelho de cinzas 

23
uma olhada através do esgoto
pode ser uma visão do mundo
a rebelião consiste em olhar uma rosa
até pulverizar os olhos 

24
(um desenho de Wols)
estes fios aprisionam as sombras
e as obrigam a prestar contas do silêncio
estes fios unem o olhar ao soluço

28
te afasta dos nomes
que fiam o silêncio das coisas 

31
É um fechar os olhos e jurar não abri-los.
Enquanto lá fora se alimentam de relógios e
flores nascidas da astúcia. Mas com os olhos
fechados e um sofrimento na verdade demasiado
grande pulsamos os espelhos até que as palavras
esquecidas soem magicamente. 

38
Este canto arrependido, vigia detrás dos meus poemas:
este canto me desmente, me amordaça. 

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