Bobby Fischer não comparece à 2ª partida

Após a dramática derrota do GM Bobby Fischer na primeira rodada do Campeonato Mundial de 1972, a próxima partida, marcada para quinta-feira, foi um ponto de virada em um dos matches mais importantes da história do xadrez. Na verdade, a segunda partida nunca foi jogada: o GM Boris Spassky venceu por w.o, pois seu oponente não apareceu.

Um artigo arquivado do The New York Times descreve a situação tensa: "Spassky sentou-se diante do tabuleiro por cerca de cinco minutos, parecendo desconfortável, e então deixou o palco. O público de cerca de 1000 pessoas – menos da metade da capacidade do salão mal iluminado – ficou olhando as duas cadeiras vazias por uma hora, numa espécie de fascinação hipnotizada. Ninguém conversava."

Spassky voltou ao palco depois de uma hora, foi aplaudido de pé ao ser declarado o vencedor e sussurrou para o árbitro antes de sair: "É uma grande pena".

O placar após esta partida não jogada era de 2 a 0 para Spassky, com uma perspectiva bastante sombria sobre se o match continuaria.

Imagine se Fischer tivesse decidido não jogar e tivesse acabado de pegar um voo de volta para os Estados Unidos. Isso quase aconteceu. Spassky teria mantido o título mundial, a URSS teria reafirmado sua supremacia no xadrez sobre os Estados Unidos durante a Guerra Fria, continuando um legado de 24 anos de domínio soviético; talvez o boom do xadrez nunca tivesse acontecido, como realmente aconteceu nos EUA nos anos 70, pelo menos até que um novo grande jogador americano aparecesse.

O Chess.com, uma empresa sediada nos EUA, teria sido concebido como o conhecemos?

Quem teria destronado Spassky? O GM Anatoly Karpov? O GM Garry Kasparov? O GM Vladimir Kramnik? Ou talvez o mundo tivesse que esperar até o GM Viswanathan Anand para encontrar um campeão mundial que não fosse russo/soviético? Claro que eu também acho que isso é demais, mas o reinado soviético no xadrez sem dúvida teria durado mais se não fosse por Fischer. Quem sabe dizer por quanto tempo?

Por que Fischer não apareceu? Do seu ponto de vista, ele achou as câmeras uma grande distração e se recusou a jogar se as câmeras permanecessem no salão de jogos, mesmo que ele não pudesse vê-las. Saber que elas estavam lá era uma distração para o desafiante. Esse problema, juntamente com uma série de outras reclamações bizarras, incluindo algumas sobre as cadeiras, luzes e assim por diante, continuariam a marcar o match nas rodadas seguintes.

Outros, especialmente do lado russo, sugeriram que o comportamento estranho de Fischer era intencional, adotado de propósito para desestabilizar psicologicamente o campeão russo. Em entrevista com Spassky conduzida por Yury Golyshak e Alexander Kruzhkov em 2016, o campeão mundial compartilhou o seguinte pensamento:

"Mas um atleta tinha que acordar em mim, um daqueles para quem a vitória é o mais importante. Eu não fiz nenhuma artimanha. Ao contrário de Fischer, que fazia declarações em todas as oportunidades. Talvez ele tenha exigido algo dos islandeses ou dos organizadores, depois do presidente da FIDE, GM Max Euwe, depois dos soviéticos. Os pássaros não estão mais cantando na Baía de Reykjavik? De quem será a culpa? Spassky! Então, de repente, ficou claro para mim: toda essa pressão foi planejada."

Na mesma entrevista, Spassky menciona que o GM William Lombardy, o único segundo de Fischer, estava por trás da guerra psicológica — que ele planejava vencer "a qualquer custo".

Se assim fosse, teria sido uma das maiores apostas imagináveis: começar o match com dois pontos de desvantagem, dando também a Spassky o direito de manter seu título sem sequer jogar o match (Euwe disse a Spassky que ele poderia sair e permanecer sendo o campeão mundial, mas o russo recusou), era um preço bastante alto a pagar. Além do mais, Fischer nunca havia vencido Spassky antes.

Na época, uma recuperação de Fischer teria parecido quase impossível ou pelo menos muito improvável. Durante essa crise entre a primeira e a terceira partida, nem estava claro se Fischer continuaria jogando.

Como Fischer finalmente decidiu jogar? O secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, ligou para Fischer pela segunda vez. Spassky, por sua vez, concordou no último minuto em jogar a próxima partida em uma sala nos bastidores sem câmeras, novamente desafiando as ordens do seu governo para sair e manter o título. O advogado de Fischer tentou remover o w.o do placar, mas não teve sucesso.

Então, depois de tudo, parecia que a terceira partida seria jogada. Fischer jogaria de Negras contra um campeão mundial que ele nunca havia vencido ainda. Com dois pontos a menos. Fique conosco para ler o próximo artigo desta série e descobrir como essa partida se desenrolou, dentro e fora do tabuleiro!

Qual você acha que foi a verdadeira motivação de Fischer para não jogar a segunda partida? Você acha que Spassky deveria ter continuado o match ou deveria ter ido para casa com o título mundial? Deixe seu comentário abaixo e, mais uma vez, obrigado por ler este artigo!

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