Jogo Prático - condução de uma partida - parte 1

Jogo Prático - condução de uma partida - parte 1

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Saudações a todos os leitores em especial aos membros do Grupo Biblioteca

Logo que aprendemos o xadrez, nós nos deparamos com uma incrível verdade: há muitas informações contidas nele, e muitas conexões entre as informações que estão contidas nele. A comprovação científica disso está no próprio número de jogadas possíveis nesse esporte, cuja estimativa está de ser muito além do número total de átomos no universo, que convenhamos, já é um número de uma dimensão enorme.
Sendo assim, aos poucos vamos descobrindo a linguagem do xadrez e aprendendo não mais apenas a movimentar as peças, mas a criar intenções com elas e formular conexões entre as informações que aprendemos inicialmente. Nesse processo a prática é um fator fundamental. A experiência é que vai nos dando o conhecimento necessário para confirmar ou não as ideias que nós pensamos para o nosso jogo no tabuleiro. 

Considerando isso, esse artigo vem com a intenção de compartilhar algumas ideias sobre o jogo prático, a partir de uma partida minha jogada recentemente. Estando eu de pretas, tenho certo fascínio pelo sistema hedgehog (porco espinho), que é um sistema de posicionamento de peças que eu aprendi jogando umas partidas online contra um amigo enxadrista. O dito sistema visa posicionar as peças negras mais ou menos da seguinte maneira: 


É dado esse nome para esse sistema porque as peças estão todas prontas para atacar ao menor sinal de erro do oponente, como se fossem os espinhos do referido bicho que dá nome a essa estrutura. São necessárias em média umas 12 jogadas até as negras conseguirem tal posicionamento, não necessariamente ficando exatamente igual à forma como eu postei aqui.
Nesse caso específico da minha partida, as pretas colocaram uma estrutura de peões comum ao universo da defesa siciliana frente à frente a uma estrutura de peões comum ao universo das aberturas de peão dama. 

Defesa Siciliana
Abertura Peão Dama

Posição da partida


Isso já é um exemplo de uma ideia que surgiu com a sequência prática. Eu acabei me acostumando a jogar com tal estrutura e passei a tentar implementá-la nas minhas partidas, quando possível, claro, pois nem todas as aberturas vão combinar com aquele posicionamento de peças.  Isso já é um exemplo de uma das primeiras situações que aprendemos ao jogar xadrez e até virou título de livro de um dos maiores treinadores de xadrez de todos os tempos, Mark Dvorestsky: "nunca viste que há um jogador do outro lado?"  

Nesse sentido, o jogo prático tem a ver com a nossa história pessoal ao jogar xadrez e os fracassos e sucessos que colhemos nesse processo. Esse é um esporte no qual ocorre o embate de ideias e as que estiverem melhor fundamentadas acabam vencendo, por isso, é necessário bastante cautela ao tomar as decisões que vão resolver os dilemas que se apresentam durante o caminho de uma partida. Vejam nesse exemplo: 

O fator tempo é algo importante no xadrez como um todo, a qualquer momento é possível conseguir alguma vantagem estratégica a partir de movimentos que se relacionem com ele. Nessa pequena sequência de três lances foi possível atingir um dos principais objetivos da fase da abertura que é o de garantir a segurança ao próprio rei.
Como resultado final, temos as negras com o rei em segurança, as brancas tendo perdido um tempo com o recuo do cavalo e as negras com duas peças no campo de jogo. Isso já representa um detalhe importante acerca da condução estratégica de uma partida, um jogador está impondo seu estilo de jogo e estratégia ao outro. 

Abrindo um parênteses, esta é a primeira parte do artigo, nela trarei os lances e detalhes estratégicos da partida numa construção livre até o lance 11, exatamente o momento em que ficou evidenciada a conclusão da fase de abertura. Os grandes mestres do xadrez nos ensinam que de início até mais ou menos o nível de uns 2000 de rating não é muito proveitoso ter um foco de estudos muito direcionado às aberturas, que é o tema que costuma ser bastante comum nas discussões de enxadristas iniciantes. Geralmente os jogadores de maior nível comentam que o estudo de aberturas só faz uma diferença mais significativa no nível de jogo quando se vai jogar contra jogadores como eles. Portanto, até então, meio jogo e finais são temas mais produtivos, na opinião destes mestres. 

Contudo, e isso é uma opinião muito minha, o que os grandes mestres fazem de melhor e seria algo para nós estudantes de xadrez buscarmos, seria a visão de uma partida de xadrez como um todo. Notadamente, eles sabem conduzir uma partida de modo limpo e fluído, transitando entre uma fase e outra de modo eficaz e com conexões muito seguras, não necessariamente muito claras a primeira vista. Se você pegar uma partida do GM Karpov, por exemplo, verá que uma série de movimentos dele no meio jogo são envenenados de um modo tão sutil que muitas vezes o sentido real da coisa só aparece aos leigos uns 10 lances à frente. 

Por isso, o foco dessa sequência de artigos sobre o jogo prático será o de tentar mostrar formas de enxergar a conexão entre as etapas do jogo e daí aprender a fazer a leitura de uma partida como um todo. Sendo assim, seguimos: 

Reparem nessa posição, sugerida após o lance 8 ... 0-0, caso as brancas rocassem: 
E nessa outra, após 11 Cc3: 
Como foi dito no diagrama, encerraremos este artigo por aqui, mas com uma pergunta: de que forma você continuaria essa partida se fosse as negras? Os detalhes estratégicos de meio jogo e final, veremos na segunda parte. Até lá! 
#movam_seus_peões!